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Campo Grande,15/03/2025

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Desafios da mulher preta 60+ Mulheres Idosas de Heliópolis superam violência de gênero, mas enfrentam etarismo e racismo, revela pesquisa

Pesquisa aponta persistência do racismo, etarismo e violência de gênero na maior comunidade de São Paulo


Desafios da mulher preta 60+ Mulheres Idosas de Heliópolis superam violência de gênero, mas enfrentam etarismo e racismo, revela pesquisa Activa Comunicação

Um estudo realizado pelo Centro Universitário São Camilo, em parceria com a ONG Velho Amigo e financiado pelo programa Itaú Viver Mais e Portal do Envelhecimento, analisou os serviços de saúde, assistência social e economia social para mulheres negras acima de 60 anos na maior comunidade de São Paulo, Heliópolis. A pesquisa, coordenada pela professora Maria Elisa Gonzalez Manso, entrevistou 58 mulheres negras e pardas, com idades entre 60 e 88 anos, e revelou que, embora muitas tenham rompido ciclos de violência de gênero, continuam a enfrentar o etarismo (discriminação por idade) e o racismo em suas vidas cotidianas.

O estudo, intitulado "Diversidades na Velhice: Vulnerabilidades Sociais e Programáticas segundo recorte de Cor de Pele e Gênero", mostrou que a violência de gênero é uma realidade marcante na vida dessas mulheres. Muitas relataram episódios de abusos físicos, psicológicos e financeiros, principalmente no ambiente familiar. A violência conjugal, iniciada ainda na juventude, foi um tema recorrente, com algumas mulheres só conseguindo romper o ciclo após a viuvez. No entanto, para outras, a violência persistiu, assumindo novas formas com o avanço da idade, como abusos cometidos por filhos e netos.

“Esse estudo foi essencial para redirecionar os serviços sociais prestados a estas mulheres, as quais estão sendo atendidas em suas efetivas necessidades. Através do estudo também se resgatou a dignidade destas idosas, as quais puderam contar, e ser ouvidas, através da pesquisa”, destacou a professora Maria Elisa Gonzalez Manso, coordenadora do estudo.

Além da violência de gênero, o racismo estrutural e ambiental também se mostrou presente na vida dessas mulheres. O local de moradia, muitas vezes associado a estigmas sociais, foi apontado como um fator de discriminação, afetando desde o acesso a empregos até o tratamento recebido por familiares e vizinhos. A pesquisa destacou que 18,7% das pessoas pretas ou pardas na cidade de São Paulo residem em aglomerados subnormais, em contraste com 7,3% das brancas, evidenciando a segregação racial e social.

O etarismo, por sua vez, se manifestou de forma silenciosa, mas impactante. Muitas idosas relataram sentir-se invisíveis, desvalorizadas e até mesmo temidas por familiares. A coabitação intergeracional, muitas vezes vista como uma solução para o cuidado dos idosos, mostrou-se um ambiente propício para violências psicológicas e financeiras. A pesquisa apontou que 20% das entrevistadas disseram ter sido prejudicadas por alguém próximo, enquanto 17% relataram insultos e humilhações por parte de familiares.

Em relação à escolaridade, a maioria das entrevistadas tinha apenas o ensino fundamental incompleto, refletindo a realidade de desigualdade de acesso à educação entre homens e mulheres de gerações mais antigas. A maioria trabalhou ou ainda trabalha como diarista, evidenciando as desigualdades históricas enfrentadas por mulheres negras no Brasil.

A pesquisa também destacou a importância de políticas públicas que considerem as interseccionalidades de gênero, raça e idade. "Há uma cegueira de geração nos estudos sobre gênero", afirmam os pesquisadores, ressaltando a necessidade de abordagens mais específicas para o envelhecimento de mulheres negras. O estudo sugere que a violência contra a pessoa idosa e a violência de gênero estão intrinsecamente ligadas, ambas reforçadas por estruturas patriarcais e idadistas.

Os resultados da pesquisa foram apresentados em um vídeo que, embora não traga as vozes das entrevistadas, busca ampliar a discussão sobre a violência institucional e a necessidade de mudanças culturais e políticas. "Como serão atendidas as pessoas que já envelheceram? Que futuro fica?", questionam os pesquisadores, destacando a urgência de ações que promovam equidade e dignidade para todas as idades.

A pesquisa, que já está influenciando as práticas da ONG Velho Amigo e da Secretaria de Saúde, continuará a ser aprofundada, com o objetivo de contribuir para a construção de uma sociedade mais justa e inclusiva para as mulheres negras que envelhecem no Brasil.

Currículo da coordenadora do estudo:

Maria Elisa Gonzalez Manso é professora titular do Curso de Medicina do Centro Universitário São Camilo, atuando ainda como professora pesquisadora. Ela é Doutora em Ciências Sociais e Mestre em Gerontologia Social pela PUC de São Paulo.

Possui pós-doutorado em Gerontologia Social pela PUC-SP e Máster em Psicogerontologia pela Universidade Maimônides de Buenos Aires. Graduada em Medicina e bacharel em Direito, com pós-graduação em Docência na Saúde, Administração em Serviços da Saúde e Administração de Empresas.

*Com informações Activa Comunicação




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