Campo Grande afunda na chuva e na incompetência: a culpa é sempre do clima, nunca da gestão
A cada verão, a cidade enfrenta alagamentos previsíveis, enquanto a prefeitura segue atribuindo culpa ao "inesperado" – e nada muda

Mais um período de chuvas chega a Campo Grande, e o roteiro é tão previsível quanto desolador: ruas alagadas, bairros inteiros isolados, moradores perdendo tudo e a prefeitura recorrendo ao velho discurso—"choveu mais do que o esperado". Impressiona a incapacidade da administração municipal de antever o óbvio: verão é sinônimo de chuvas intensas.
Uma simples busca rápida no Google revela um histórico de reportagens que repetem, ano após ano, os mesmos problemas e, claro, as mesmas desculpas esfarrapadas. A imprevisibilidade climática sempre surge como a grande vilã. Curioso, no entanto, como a gestão municipal demonstra notável precisão ao projetar aumento de arrecadação e criar novas taxas. Já para investir em drenagem, manutenção de córregos e combate ao assoreamento, a previsão meteorológica se torna convenientemente incerta.
Campo Grande abriga uma rede hidrográfica expressiva, composta por 198 córregos distribuídos entre zonas urbana e rural. No entanto, a degradação ambiental, marcada pelo assoreamento e pela poluição, compromete o escoamento das águas pluviais. O resultado? A cada tempestade, a cidade mergulha no caos. Um estudo conduzido entre 2018 e 2023 identificou 286 pontos críticos de alagamento. Quatro anos de gestão depois, o número segue praticamente inalterado.
E a Câmara Municipal? Enquanto alguns vereadores transformam enchentes em palanque para autopromoção nas redes sociais, a maioria adota a estratégia do silêncio. Fiscalização? Exigência de soluções? Melhor nem perguntar. O que se observa é um legislativo acomodado, incapaz de cobrar uma postura efetiva da gestão municipal, perpetuando a negligência administrativa.
A verdade é uma só: Campo Grande não aguenta mais ser governada por desculpas. Ou a gestão municipal assume sua responsabilidade e age com planejamento e seriedade, ou a cidade continuará à deriva—submersa não apenas pela chuva, mas também pela inércia do poder público. O tempo passa, as estações se repetem, e o que deveria ser prevenido continua sendo tratado como fatalidade inevitável. Até quando?
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